Finanças

Alimentos e conta de luz mais baratos marcam primeira deflação em 2 anos; entenda

A deflação é um processo econômico que não dava as caras há algum tempo, mas que é um bom indicador para o Brasil.

A deflação ocorre quando o nível geral de preços de bens e serviços apresenta queda em relação a um período anterior. Diferente da inflação, que corrói o poder de compra e aumenta o custo de vida, a deflação costuma indicar redução da demanda ou excesso de oferta em certos setores da economia.

Esse fenômeno pode parecer positivo para o consumidor, já que produtos ficam mais acessíveis, mas também traz desafios, pois pressiona empresas, reduz margens de lucro e pode desestimular investimentos.

Dessa forma, analisar o comportamento dos preços se torna essencial para compreender o equilíbrio entre consumo, produção e estabilidade econômica. No Brasil, a deflação ainda é rara, o que torna seu impacto digno de atenção detalhada.

A deflação marcou um novo período no país, que conta com alguns produtos mais baratos.
A deflação marcou um novo período no país, que conta com alguns produtos mais baratos. / Crédito: @jeanedeoliveirafotografia / procred360.com.br

Deflação marca o país pela primeira vez em 2 anos

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado a prévia oficial da inflação, registrou deflação de 0,14% em agosto. O resultado surpreendeu porque, em julho, o mesmo índice havia apontado alta de 0,33%.

Essa foi a primeira variação negativa em dois anos, desde julho de 2023, quando a taxa havia recuado 0,07%. A queda reflete a combinação de fatores que atuaram simultaneamente, especialmente no setor de alimentos e no segmento de energia elétrica.

Entre os grupos pesquisados, quatro mostraram variações negativas: habitação (-1,13%), alimentação e bebidas (-0,53%), transportes (-0,47%) e comunicação (-0,17%). Os demais segmentos tiveram impacto positivo ou neutro, como:

  • despesas pessoais (1,09%);
  • educação (0,78%);
  • saúde e cuidados pessoais (0,64%);
  • vestuário (0,17%);
  • artigos de residência (0,03%).

Esse equilíbrio explica por que, apesar da deflação, alguns itens ainda apresentaram encarecimento. Assim, o resultado consolidado mostra um alívio pontual no orçamento das famílias.

A energia elétrica residencial foi um dos principais responsáveis pela queda, com recuo de 4,93%. Esse resultado se deve ao chamado bônus de Itaipu, proveniente do saldo positivo da comercialização de energia da usina.

Em 2024, o montante distribuído alcançou R$ 936,8 milhões, representando desconto médio de R$ 11,59 na conta de luz. Esse benefício ajudou a reduzir os custos do grupo habitação, impactando de maneira decisiva no índice geral de preços.

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Alimentos e itens ficaram mais baratos

O setor de alimentos apresentou o terceiro mês consecutivo de recuo, reforçando o peso da deflação em agosto. Carnes vermelhas, arroz, feijão, ovos, aves, pescados e produtos in natura registraram quedas significativas.

Essa redução foi ainda mais intensa em frutas e hortaliças, como batata-inglesa, manga, maracujá e laranja-baía. A baixa nesses produtos reflete aumento da oferta no mercado interno, aliado a condições climáticas mais favoráveis em determinadas regiões.

O relatório do Banco Daycoval destacou que a queda foi mais forte do que o esperado, o que contribuiu diretamente para a deflação registrada no mês. Esse cenário favorece especialmente famílias de baixa renda, que destinam maior parte do orçamento à alimentação.

Além disso, itens como ventiladores e brócolis também apresentaram recuos expressivos, mostrando que a queda de preços não ficou restrita ao setor de alimentos. A tabela a seguir mostra os principais itens que registraram maior deflação em agosto:

ItemVariação (%)
Manga-20,99
Batata-inglesa-18,77
Cebola-13,83
Maracujá-11,68
Laranja-baía-8,31
Tomate-7,71
Uva-6,61
Couve-flor-6,41
Açaí (emulsão)-6,25
Couve-6,07
Alho-5,10
Abacaxi-5,07
Energia elétrica-4,93
Banana-maçã-4,04
Ovo de galinha-3,25
Arroz-3,12
Ventilador-3,08
Brócolis-3,03
Fonte: Reprodução

Esses recuos mostram que a deflação de agosto foi puxada por produtos essenciais no dia a dia, especialmente alimentos frescos.

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Outros ficaram mais caros

Apesar da baixa geral, alguns itens destoaram da tendência e registraram aumento expressivo. Esse comportamento revela que, mesmo em períodos de deflação, determinados produtos sofrem pressão de demanda ou dificuldades de oferta.

A abobrinha foi o item com maior alta, subindo mais de 20% em apenas um mês. Outro destaque foi o morango, que encareceu mais de 11% em razão da popularidade de sobremesas que usam a fruta. Além dos alimentos, serviços também influenciaram a alta.

Os jogos de azar, por exemplo, registraram aumento de 11,45% devido ao reajuste nos preços dos bilhetes da Loterias Caixa. O movimento reforça que a deflação não se espalhou por todos os setores da economia, mas se concentrou em grupos específicos.

A tabela a seguir mostra os principais itens que ficaram mais caros em agosto:

ItemVariação (%)
Abobrinha20,39
Pepino20,03
Jogos de azar11,45
Morango11,18
Banana-da-terra10,33
Pimentão8,86
Banana-d’água7,68
Melão7,35
Peixe-dourada5,46
Melancia5,03
Peixe-castanha3,79
Leite de coco3,70
Clube3,04
Chocolate em pó2,63
Chocolate em barra2,57
Feijão-mulatinho2,40
Carne de carneiro2,26
Sopa desidratada2,25
Conserto de televisor2,05
Fonte: Reprodução

Portanto, o resultado de agosto mostra um cenário misto: ao mesmo tempo em que alimentos básicos e energia puxaram a deflação, outros produtos e serviços ainda apresentaram aumentos relevantes. Essa dualidade explica por que os impactos variam de acordo com o perfil de consumo de cada família.

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Nicole Ribeiro

Graduanda em Jornalismo na pela Universidade do Estado de Minas Gerais, formada em Letras - Português também pela UEMG. Redatora freelancer e revisora de artigos e textos acadêmicos. Apaixonada por gatos e pelo conhecimento.

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