CGU acusa INSS de manter acordos com entidades mesmo após descobrir fraudes
As recentes investigações das fraudes do INSS apontam que o instituto descobriu os esquemas, mas ainda manteve acordos com as entidades criminosas.
As fraudes envolvendo o INSS têm ocupado espaço relevante no debate público, sobretudo pela dimensão social e econômica que os benefícios previdenciários representam no Brasil. O sistema, que atende milhões de segurados, deveria garantir segurança e estabilidade.
Entretanto, constantemente se vê alvo de irregularidades que colocam em risco tanto os cofres públicos quanto a confiança da população. Casos de descontos não autorizados em benefícios, irregularidades em contratos e a atuação de entidades suspeitas revelam vulnerabilidades graves.
Assim, compreender como essas falhas surgiram, quais medidas foram adotadas e de que forma o governo lidou com denúncias torna-se essencial para avaliar a transparência e a eficácia do INSS na gestão dos recursos da seguridade social.

Neste artigo, você confere:
CGU acusa INSS de manter contrato com empresas fraudulentas
A Controladoria-Geral da União (CGU) afirmou que o INSS não suspendeu nenhum Acordo de Cooperação Técnica em 2024, mesmo após a identificação de irregularidades em descontos associativos diretamente nos benefícios.
A informação veio à tona em depoimento da diretora de Auditoria de Previdência e Benefícios da CGU, Eliane Viegas Mota, à CPMI do INSS. Ela destacou que, em julho do ano anterior, a Controladoria já havia alertado a presidência do Instituto sobre indícios de falhas graves na gestão desses contratos.
Na ocasião, a CGU entregou um relatório preliminar ao então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, apontando problemas e apresentando recomendações para corrigi-los. Posteriormente, ocorreu uma reunião para discutir o conteúdo do relatório e as medidas sugeridas.
No entanto, mesmo diante das evidências, a direção do Instituto preferiu analisar as informações sem adotar medidas imediatas de suspensão. Essa postura levantou questionamentos sobre a capacidade do órgão em agir preventivamente.
Além disso, a CGU ressaltou que o Instituto mantinha acordos ativos com entidades sob investigação, o que permitiu a continuidade de cobranças duvidosas. Essa inércia contribuiu para ampliar o impacto sobre beneficiários que tiveram valores descontados sem autorização.
Descontos só foram suspensos em 2025
Segundo o depoimento de Eliane Mota, os descontos associativos só foram efetivamente suspensos em abril de 2025, após a deflagração da Operação Sem Desconto. Essa operação ganhou repercussão nacional por revelar práticas fraudulentas que afetavam milhares de segurados.
Diante das investigações, tudo acabou culminando no afastamento de Alessandro Stefanutto da presidência do INSS. Em 23 de abril, o governo federal confirmou sua exoneração e trouxe outro representante para o cargo, Gilberto Waller Júnior.
Esse atraso na adoção de medidas trouxe consequências diretas para os beneficiários, que continuaram enfrentando descontos indevidos ao longo de meses. Muitos segurados relataram prejuízos financeiros e dificuldades para contestar os valores retidos.
Além disso, a suspensão tardia levantou questionamentos sobre a eficácia das auditorias internas e externas no acompanhamento das denúncias. Se os relatórios já apontavam irregularidades em 2024, por que somente em 2025 ocorreu uma ação concreta?
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CGU aponta descontos fraudulentos do INSS em 2019
O depoimento de Mota também revelou que a CGU já tinha conhecimento das irregularidades em descontos associativos desde 2019. Naquele ano, a auditoria identificou crescimento atípico em quatro entidades específicas, além de receber reclamações de beneficiários.
Diante das evidências, o Ministério Público recomendou ao INSS a suspensão imediata dos acordos com essas instituições. Poucos meses depois, os Acordos de Cooperação Técnica com as quatro entidades foram suspensos, e, posteriormente, um quinto acordo também foi cancelado.
No entanto, duas dessas associações conseguiram retomar suas atividades sob novos nomes, mostrando a dificuldade do sistema em barrar de forma definitiva organizações que já apresentavam indícios de fraude. Esse episódio expôs como a fiscalização nem sempre consegue eliminar práticas nocivas.
Paralelamente, a CGU informou que, em 2019, a recém-criada Diretoria de Previdência e Benefícios do INSS iniciou um mapeamento amplo das práticas da área. Nesse levantamento, a equipe identificou as consignações na folha de pagamento como um ponto crítico, já que abrangiam descontos associativos.
Com isso, percebe-se que as irregularidades em descontos associativos não surgiram de forma repentina, mas vêm se acumulando ao longo de anos. Apesar de alertas e auditorias, o INSS mostrou dificuldade em implementar soluções permanentes.
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