Desde a última sexta-feira, uma movimentação silenciosa, mas urgente, tem ocupado filas em agências dos Correios em todo o Brasil.
São aposentados e pensionistas que, de repente, começaram a notar algo estranho em seus contracheques: descontos não reconhecidos, nomes de entidades desconhecidas e valores que, mesmo pequenos, somavam prejuízos preocupantes.
O que parecia ser um caso isolado virou uma avalanche: mais de 100 mil pessoas já buscaram atendimento presencial em apenas três dias. Mas o que está por trás dessa corrida contra o tempo? E por que tantos beneficiários do INSS estão sendo surpreendidos por débitos que nunca autorizaram?
Enquanto o governo corre para encontrar soluções, a sensação de injustiça cresce entre os segurados. E há um detalhe que poucos sabem — mas que pode mudar o rumo dessa história inteira.

Descontos misteriosos: quando o benefício vira armadilha
Tudo começou com relatos de pequenos descontos aparecendo repetidamente nos extratos mensais dos aposentados. Em muitos casos, os beneficiários não tinham ideia de onde vinham aqueles valores.
Mas ao investigarem, descobriram que as cobranças estavam ligadas a associações ou sindicatos — entidades que, teoricamente, teriam sido “autorizadas” a debitar diretamente da aposentadoria.
Mas aqui está o ponto central: essas autorizações, na maioria dos casos, simplesmente não existem.
Segundo o Ministério da Previdência Social, 41 entidades estão sob investigação formal. A acusação? Cobrança indevida de mensalidades, taxas administrativas e até seguros, sem o consentimento dos beneficiários.
Pior ainda: em muitos casos, a suposta autorização era um formulário vago, assinado no momento da aposentadoria, sem clareza sobre os efeitos futuros.
O governo federal já iniciou uma operação nacional para apurar as fraudes e, sobretudo, garantir a devolução dos valores cobrados. Mas o caminho até lá é longo — e envolve um emaranhado burocrático que pode demorar até o final de 2025.
Veja mais: Gestantes de risco: dinheiro extra liberado pelo INSS – solicite agora
Atendimento nos Correios vira linha de frente da operação
Para muitos aposentados, o ambiente digital do app “Meu INSS” é inacessível. Seja por idade, falta de familiaridade ou ausência de internet, milhões de beneficiários ainda dependem do atendimento presencial.
Por isso, o governo firmou parceria com os Correios para facilitar o acesso à contestação dos descontos indevidos.
Mais de 100 mil pessoas já compareceram às agências autorizadas, segundo dados divulgados no dia 2 de junho. Mas o número pode dobrar nas próximas semanas. A Central 135 e o aplicativo continuam recebendo solicitações — e o total de pedidos de devolução já passa de 2,4 milhões.
O processo é simples, mas precisa de atenção. Quem identificar valores desconhecidos em seu extrato deve solicitar a suspensão imediata, contestar a entidade envolvida e, se possível, solicitar a devolução.
O prazo para resposta por parte da associação é de até 15 dias úteis. Se ela não comprovar a autorização, o desconto é suspenso e o valor, teoricamente, deve ser ressarcido.
Mas, como sempre, há um “porém”.
Leia mais: Novo serviço e benefício do Nubank promete facilitar vida dos clientes Brasileiros
E a devolução do dinheiro? Governo estuda uso do Tesouro
Com a pressão crescente e a indignação dos segurados, o governo já admite que nem todas as entidades investigadas terão condições financeiras de devolver os valores indevidamente cobrados.
Diante disso, o Ministério da Fazenda estuda, junto com a Advocacia-Geral da União, uma solução que pode envolver o uso de recursos do Tesouro Nacional.
“O presidente Lula quer garantir justiça para quem foi lesado”, disse Fernando Haddad, ministro da Fazenda, nesta segunda-feira (2). Mas a definição da fonte de pagamento e da forma de ressarcimento ainda está em análise.
Enquanto isso, milhares de brasileiros seguem sem respostas. Alguns já viram seus descontos cessarem após a contestação. Mas muitos ainda aguardam retorno — e convivem com o medo de novos débitos surgirem nos próximos meses.
Como evitar novos golpes e proteger seu benefício
Apesar da atuação do governo, a responsabilidade por evitar novas fraudes também passa pelo comportamento do segurado. O INSS reforça algumas práticas essenciais para quem quer evitar cair em armadilhas:
- Nunca assine documentos sem ler — por completo;
- Desconfie de promessas de vantagens, clubes ou seguros sem sua solicitação;
- Verifique seu extrato com frequência, pelo aplicativo “Meu INSS” ou nas agências;
- Não forneça dados pessoais por telefone, WhatsApp ou redes sociais;
- Mantenha seus dados atualizados no portal Gov.br.
A operação de investigação ainda está longe de acabar, mas uma coisa já é certa: o caso escancarou uma vulnerabilidade no sistema de aposentadorias brasileiro.