Novo crédito para CLT com FGTS: parece fácil, mas tem um porém…
Você já se pegou pensando em como conseguir um crédito com juros mais baixos, mas sem ter que enfrentar filas, burocracia e aquela análise de crédito que parece mais uma sabatina?
Se a resposta for sim — e para milhões de brasileiros ela é —, uma nova alternativa criada pelo governo pode parecer a resposta perfeita. Mas, como tudo que envolve dinheiro, a promessa de facilidade também carrega riscos que nem todos estão enxergando.
Desde março de 2025, trabalhadores com carteira assinada passaram a contar com uma nova linha de crédito: o Crédito do Trabalhador, uma iniciativa que permite usar até 10% do saldo do FGTS como garantia em empréstimos consignados.
A ideia é simples e, à primeira vista, genial. Mas será que ela é mesmo tão vantajosa quanto parece? E, principalmente, será que vale a pena usar o dinheiro do seu futuro para pagar contas do presente?
Neste novo modelo, o crédito é facilitado, os juros caem, as parcelas são descontadas direto na folha de pagamento e tudo é feito pelo app da Carteira de Trabalho Digital.
Parece bom demais pra ser verdade? Continue lendo e descubra os bastidores do programa que promete revolucionar o acesso ao crédito para quem é CLT — mas exige mais cautela do que se imagina.

Juros menores, aprovação mais fácil… mas tem pegadinha no crédito?
O grande trunfo do Crédito do Trabalhador é a possibilidade de garantir um empréstimo com taxas de juros bem abaixo da média do mercado. Isso porque os bancos enxergam o FGTS como um “colchão de segurança” — ou seja, em caso de inadimplência, parte do valor pode ser quitada com o saldo do fundo.
Isso diminui o risco para a instituição financeira e, consequentemente, barateia o custo do empréstimo. Mas nem tudo são flores.
Ao usar parte do FGTS como garantia, o trabalhador compromete um valor que poderia ser usado em situações emergenciais, como demissão, compra da casa própria ou aposentadoria.
Além disso, o programa permite que as parcelas ocupem até 35% da renda mensal, o que pode desequilibrar o orçamento de famílias que já vivem no limite. Ou seja: o crédito é mais acessível, mas também exige um bom planejamento financeiro. Contratar no impulso pode custar caro.
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Como funciona o “leilão de juros” e por que ele pode te beneficiar
Uma inovação interessante do programa é o chamado leilão eletrônico de taxas. Funciona assim: o trabalhador informa o valor que deseja tomar emprestado diretamente no aplicativo da Carteira de Trabalho Digital.
A partir disso, bancos e fintechs credenciados disputam entre si para oferecer as melhores condições.
É uma inversão do modelo tradicional, em que o cliente precisa ir de banco em banco em busca de condições. Aqui, são as instituições que vão até você — e isso, de fato, pode trazer vantagens reais.
É possível comparar taxas, prazos e o Custo Efetivo Total (CET) de cada proposta, evitando armadilhas escondidas nos contratos.
Mas vale o alerta: mesmo com juros menores, o crédito continua sendo uma dívida. E como o desconto é feito direto no salário, o risco de sobreendividamento pode passar despercebido. Antes de contratar, analise bem seu orçamento e tenha certeza de que a parcela cabe no seu bolso sem sufoco.
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Quem pode aderir, como contratar e o que observar no crédito
O Crédito do Trabalhador é destinado exclusivamente a quem tem carteira assinada. Isso inclui trabalhadores urbanos, rurais e até domésticos — desde que estejam em empresas que declarem corretamente os dados no eSocial.
Para contratar, basta ter um saldo mínimo no FGTS e fazer o pedido pelo app da Carteira de Trabalho Digital. O cadastro no sistema Gov.br deve estar em nível prata ou ouro. Depois disso, o próprio sistema apresenta as propostas disponíveis para o valor solicitado.
O programa está sendo implantado por etapas:
- Março: lançamento da MP e início dos contratos novos
- Abril: liberação para migração de dívidas antigas
- Junho: previsão de início da portabilidade entre bancos
Aliás, essa migração pode ser uma jogada estratégica: quem tem empréstimos com juros mais altos pode transferir o saldo devedor para a nova linha com FGTS como garantia — e economizar no longo prazo.
Vale a pena usar o FGTS como garantia?
A resposta não é única. Para quem está pagando juros abusivos no cartão ou cheque especial, a troca por uma linha mais barata pode ser um alívio. Para quem quer fazer uma reforma, investir em um curso ou quitar uma dívida em atraso, o programa pode ser útil — mas desde que acompanhado de planejamento.
O risco está no uso impulsivo. Afinal, o FGTS é uma reserva importante para momentos de instabilidade, e uma vez comprometido, pode deixar o trabalhador sem saída no futuro. Por isso, a recomendação dos especialistas é clara: use com consciência, e apenas se for necessário.
O Crédito do Trabalhador é inovador, promissor e tem tudo para beneficiar milhões de brasileiros. Mas como todo crédito, ele precisa ser usado com inteligência. Se bem planejado, pode ser a solução para reorganizar sua vida financeira. Se mal utilizado, pode virar mais uma armadilha no seu contracheque.