Empréstimo

Crédito do Trabalhador aumentou o endividamento por consignado em 80%; entenda

Apesar de ser uma opção mais viável de consignado para CLT, o Crédito do Trabalhador também está sendo responsável pelo endividamento da classe.

O Crédito do Trabalhador surgiu como uma alternativa voltada para profissionais com carteira assinada (CLT), oferecendo a possibilidade de acessar empréstimos com taxas de juros menores e pagamento facilitado por meio do desconto em folha.

A proposta inicial visava ampliar o acesso ao crédito formal, reduzir o uso de modalidades mais caras e proporcionar maior segurança financeira ao trabalhador da iniciativa privada. No entanto, à medida que o programa se expandiu, surgiram dúvidas sobre seus impactos reais na renda das famílias.

Com a adesão crescente e o aumento do volume de operações, tornou-se essencial compreender como o Crédito do Trabalhador influencia o comportamento de endividamento dos brasileiros e quais riscos essa modalidade pode trazer para quem depende do salário mensal como principal fonte de sustento.

O Crédito do Trabalhador é uma opção viável para CLTs, mas pode causar endividamento.
O Crédito do Trabalhador é uma opção viável para CLTs, mas pode causar endividamento. / Crédito: @jeanedeoliveirafotografia / procred360.com.br

Crédito do Trabalhador aumenta inadimplência entre CLT

O crescimento do Crédito do Trabalhador demonstrou um aumento expressivo do endividamento das famílias brasileiras, especialmente entre os trabalhadores de baixa renda e menor escolaridade. Em apenas cinco meses, o saldo total de operações subiu de R$ 18,4 bilhões para R$ 33,1 bilhões.

Esse avanço rápido indica que muitos trabalhadores recorreram à nova linha de crédito com a expectativa de substituir dívidas caras por empréstimos mais acessíveis. No entanto, o resultado prático foi o aumento do comprometimento da renda e o risco de inadimplência.

Isso ocorre porque parte dos contratantes passou a acumular novas obrigações financeiras sem conseguir quitar as antigas. Esse cenário reflete uma ampliação do crédito sem o devido preparo financeiro da população.

O objetivo inicial do governo ao criar o Crédito do Trabalhador era substituir modalidades como o cheque especial e o rotativo do cartão de crédito, que possuem juros extremamente elevados. Apesar de uma redução inicial nas dívidas de alto custo, o Banco Central identificou que o alívio foi momentâneo.

Poucos meses depois, o saldo de endividamento voltou a crescer, o que demonstra que muitos trabalhadores utilizaram o crédito como um reforço de caixa imediato, sem um planejamento adequado. A facilidade de contratação e o desconto automático criaram uma sensação de segurança ilusória.

Outro ponto relevante é o perfil do público atendido. O Crédito do Trabalhador abrange principalmente empregados com pouco tempo de empresa, renda mais baixa e vínculo em empresas de menor porte. Esse grupo já possui uma taxa de endividamento naturalmente mais alta.

Mesmo com a possibilidade de utilizar o FGTS e a multa rescisória como garantias, a dependência de um emprego formal contínuo cria riscos adicionais. Assim, o programa, embora bem-intencionado, acabou contribuindo para a ampliação do desequilíbrio financeiro entre os trabalhadores formais.

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Como houve aumento do endividamento?

O aumento do endividamento está diretamente ligado à rápida expansão das concessões do Crédito do Trabalhador. Entre março e julho, foram firmados cerca de 3 milhões de contratos, sendo que 2,3 milhões pertencem à nova modalidade criada pelo governo.

No mesmo período, as concessões atingiram R$ 21,9 bilhões, e mais da metade desse valor veio do novo consignado. Embora o impacto total no crédito bancário agregado tenha sido limitado, o efeito nas famílias foi significativo, pois o volume de parcelas descontadas diretamente da folha aumentou.

A análise do Banco Central mostrou que a ampliação do programa coincidiu com uma mudança no perfil dos contratantes. A renda média caiu de R$ 2.925 para R$ 2.603, e o número de pessoas com ensino médio ou superior também diminuiu.

Esse dado revela que o programa passou a atingir trabalhadores com menor capacidade de planejamento financeiro. Além disso, o tempo médio de vínculo empregatício reduziu, o que aumenta o risco de inadimplência em caso de demissão.

Taxas de juros

As taxas de juros do Crédito do Trabalhador superaram as expectativas iniciais e se tornaram um dos principais fatores do aumento do endividamento. Até julho, a taxa média anual chegou a 58%, enquanto o consignado tradicional por convênio mantinha 36,2%.

Essa diferença reflete o maior risco percebido pelas instituições financeiras, que associam empresas menores e trabalhadores com menos tempo de casa a uma probabilidade mais alta de inadimplência. O BC destacou que o custo do crédito está vinculado ao perfil do tomador, ao vínculo empregatício.

Assim, mesmo com a proposta de reduzir juros, a modalidade acabou se tornando mais cara para quem mais precisava de condições acessíveis. A combinação de juros elevados e baixa renda aumentou o comprometimento do orçamento familiar e reduziu a capacidade de quitação das parcelas.

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Especialistas se manifestam sobre o Crédito do Trabalhador

Os especialistas em economia avaliam que o Crédito do Trabalhador pode trazer benefícios, mas apenas quando utilizado com responsabilidade e planejamento. Eles afirmam que o crédito consignado é uma ferramenta eficaz para substituir dívidas de alto custo, desde que o tomador entenda suas condições.

No entanto, quando usado de forma impulsiva, o mesmo instrumento que deveria aliviar a carga financeira pode se transformar em uma armadilha. O principal problema está no comportamento dos contratantes, que muitas vezes utilizam o empréstimo para novos gastos em vez de quitar dívidas.

As pesquisas sobre o Crédito do Trabalhador mostram que a maioria dos contratantes não calcula o real impacto das parcelas no orçamento mensal. Um levantamento da Abefin apontou que 69% dos trabalhadores que aderiram à modalidade não avaliaram o efeito sobre o salário antes de contratar.

Além disso, 83% desconhecem as taxas de juros que pagam, o que indica falta de compreensão financeira e ausência de orientação adequada. Essa desinformação leva a decisões baseadas em emoção e necessidade imediata, não em racionalidade econômica.

Apesar dos riscos, o Crédito do Trabalhador também tem papel relevante na inclusão financeira. O Ministério do Trabalho destacou que mais de 5,4 milhões de pessoas já contrataram a modalidade, com R$ 50 bilhões liberados até setembro.

A taxa média mensal de 3,42% ainda é menor que a dos empréstimos pessoais comuns, o que representa um avanço em relação a alternativas de crédito informal. Contudo, sem educação financeira e acompanhamento rigoroso, a ampliação do acesso pode resultar em maior vulnerabilidade econômica.

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Nicole Ribeiro

Graduanda em Jornalismo na pela Universidade do Estado de Minas Gerais, formada em Letras - Português também pela UEMG. Redatora freelancer e revisora de artigos e textos acadêmicos. Apaixonada por gatos e pelo conhecimento.

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