Entenda o porquê de supermercados serem CONTRA o consignado CLT: resposta vai te chocar!
Com a chegada do consignado CLT, os trabalhadores conheceram uma oportunidade mais barata de crédito, o que não agradou todos os setores.
A necessidade de crédito tornou-se parte da realidade financeira de milhões de brasileiros nos últimos anos. Dados recentes mostram que uma parcela significativa da população busca empréstimos não apenas para investir, mas, principalmente, para pagar dívidas acumuladas.
Essa prática se intensificou com a pandemia de COVID-19, quando cerca de 6 milhões de pessoas recorreram a algum tipo de empréstimo, segundo o IBGE. Além disso, uma pesquisa da Creditas com a Opinion Box revela que aproximadamente 21% dos brasileiros utilizaram empréstimos.
Nesse cenário, o crédito consignado — em especial o novo modelo voltado a trabalhadores com carteira assinada, o chamado consignado CLT — ganhou destaque e provocou debates acalorados entre empregadores, especialistas e o próprio governo.

Neste artigo, você confere:
Supermercados são contra o consignado CLT?
Supermercados, que representam os maiores empregadores formais do Brasil, vêm se posicionando de forma crítica em relação ao consignado CLT. Com uma taxa de rotatividade de quase 60% entre seus funcionários, o setor teme que o novo modelo de crédito piore a atual escassez de mão de obra.
Segundo a Abras, muitos empregados, ao comprometerem até 35% de sua renda com parcelas descontadas diretamente da folha, podem acabar pedindo demissão para escapar da dívida — o que incentiva a migração para a informalidade.
Entre janeiro e abril deste ano, 59% dos desligamentos em hipermercados foram por iniciativa dos próprios trabalhadores, percentual muito superior aos 42% registrados cinco anos atrás, o que reforça a preocupação. Além do alto turnover, os supermercadistas criticam as taxas praticadas pelas instituições.
Mesmo com a garantia de desconto em folha e uso do FGTS como garantia, muitos contratos apresentam juros elevados. A Abras relatou que mais de 20 mil funcionários contrataram o consignado CLT com taxas médias de 6,98% ao mês, chegando a extremos de 21,88% mensais.
Esses valores superam até o crédito pessoal tradicional. Por isso, o setor argumenta que os trabalhadores acabam com orçamentos comprometidos, elevando a pressão por demissões e aumentando a instabilidade no emprego formal.
Em reuniões com o Ministério do Trabalho e outras autoridades, representantes dos supermercados sugeriram limitar o valor do empréstimo proporcionalmente ao salário do trabalhador. A ideia é evitar que o crédito comprometa o suficiente para inviabilizar a sobrevivência financeira.
Para eles, apesar de o consignado CLT ter boas intenções, sua execução prática pode gerar desequilíbrios. O receio é que, ao invés de resolver problemas financeiros, o modelo crie novos — tanto para os trabalhadores quanto para os empregadores do setor de mão de obra intensiva.
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Entenda como o consignado CLT funciona
O consignado CLT foi lançado em março pelo Ministério do Trabalho e Emprego como parte do programa Crédito do Trabalhador. Ele permite que empregados do setor privado tomem empréstimos com desconto automático na folha de pagamento.
O diferencial em relação ao modelo anterior está no uso de até 10% do FGTS e das verbas rescisórias como garantia, o que visa oferecer taxas mais atrativas ao trabalhador. Além disso, o modelo estimula a competição entre instituições financeiras por meio de leilões, com o intuito de reduzir mais os juros.
Contudo, o impacto prático do programa ainda é alvo de controvérsias. Segundo o Banco Central, os juros do consignado privado chegaram a 59,1% ao ano, enquanto o consignado CLT já apresentou queda nas taxas — atingindo 47,2% ao mês em maio, conforme dados da Dataprev.
A própria pasta do Trabalho argumenta que o consignado CLT representa uma forma mais barata de crédito, com capacidade de substituir dívidas mais caras, como o rotativo do cartão, que ultrapassa 8% de juros mensais. Em abril, houve uma queda de quase R$ 3 bilhões na concessão do rotativo.
A quem esse benefício se destina?
O público-alvo do consignado CLT inclui todos os trabalhadores com carteira assinada que não possuam outros empréstimos em andamento. Isso significa que a iniciativa busca alcançar uma parcela da população que normalmente tem dificuldade de acesso ao crédito tradicional, como empregados.
Dos mais de 2,3 milhões de tomadores registrados até agora, cerca de 3.800 são domésticos, segundo o MTE. O ministério afirma que o objetivo é justamente oferecer condições melhores de financiamento para quem está endividado e precisa reorganizar sua vida financeira.
A promessa é que, ao migrar dívidas com altos juros para um empréstimo com taxas menores, o trabalhador ganhe fôlego no orçamento. Ainda assim, diversas entidades alertam para os riscos dessa modalidade. O endividamento, embora menor que o de outras linhas, pode comprometer a renda.
Além dos descontos do consignado, muitos trabalhadores já têm abatimentos em folha por benefícios como vale-refeição, transporte, planos de saúde e academias. Esses múltiplos descontos, quando somados, deixam o salário líquido muito reduzido.
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Há mais risco de demissões com a chegada do consignado CLT?
Sim, o risco de aumento nas demissões existe e já preocupa entidades do setor privado. A Central Brasileira do Setor de Serviços (Cebrasse), por exemplo, alerta que a pressão financeira provocada pelo consignado pode levar trabalhadores ao limite.
O comprometimento de até 35% da renda mensal, aliado a outras despesas fixas, cria uma sobrecarga difícil de administrar. Nesses casos, não é raro que o trabalhador opte por pedir demissão para fugir dos descontos automáticos, o que compromete a continuidade do emprego formal e fragiliza o mercado.
Profissionais da área de recursos humanos também têm observado uma crescente judicialização desse tipo de crédito. Muitos funcionários têm processado suas empresas na tentativa de não arcar com o consignado, o que gera novos desafios para os empregadores.
A diretora financeira da ABRH-SP, Inês Restier, relata que há uma clara falta de educação financeira entre os trabalhadores, o que os leva a contrair empréstimos sem avaliar sua real capacidade de pagamento. Como resultado, surgem litígios trabalhistas e o risco de dívidas ainda maiores.
Ainda que o Ministério do Trabalho defenda o programa como um mecanismo para aliviar o peso das dívidas caras, o cenário atual exige ajustes e monitoramento constante. O governo argumenta que as regras limitam o acesso ao crédito a quem ainda não está endividado.
No entanto, especialistas indicam que a solução mais eficaz passa pela educação financeira. Informar o trabalhador, oferecer suporte e fiscalizar as práticas de crédito são ações fundamentais para que o consignado CLT cumpra seu papel sem provocar novos problemas no mercado de trabalho formal.
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