O Fies é um dos programas mais importantes de acesso ao Ensino Superior para pessoas de baixa renda, mas ainda deixa muitos endividados.
O Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) foi criado com o objetivo de ampliar o acesso de estudantes de baixa renda ao ensino superior privado. Por meio do programa, o governo federal arca com as mensalidades da faculdade e o aluno começa a pagar a dívida apenas após se formar.
Esse modelo teve grande adesão ao longo dos anos, especialmente durante o início da década de 2010, quando o financiamento chegou a alcançar centenas de milhares de contratos. No entanto, mudanças no perfil dos beneficiários, reformulações nas regras e problemas econômicos diminuíram a adesão.
Diante disso, o Fies se encontra em um momento crítico, com baixa procura e alta inadimplência. Compreender os motivos dessa crise e as estratégias em curso para superá-la ajuda a avaliar o futuro do programa e seu papel na educação superior brasileira.

Neste artigo, você confere:
Cerca de dois terços dos beneficiários do Fies estão endividados
O Fies chegou a registrar números expressivos, como os 733 mil contratos firmados em 2014, mas esse cenário se inverteu nos anos seguintes. Em 2024, o programa enfrenta a maior taxa de inadimplência de sua história, atingindo 62% dos contratos.
Esse número mais do que dobrou desde 2014, quando a inadimplência era de 31%. Esse aumento contínuo de dívidas compromete o equilíbrio financeiro do fundo e ameaça a sustentabilidade da política pública, já que os pagamentos dos formados deveriam alimentar novos financiamentos.
A queda na capacidade de pagamento dos estudantes representa um dos principais entraves. Mais de 90% dos beneficiários têm renda de até um salário e meio por mês, o que torna inviável arcar com qualquer valor significativo durante o curso.
Mesmo com o fim do financiamento de 100%, muitos continuam sem condições de pagar os 30% restantes da mensalidade, acrescidos de taxas e seguros. Com isso, muitos estudantes abandonam o curso e acumulam dívidas que não conseguem quitar, agravando ainda mais os índices de inadimplência.
Além disso, a forma como o financiamento foi estruturado ao longo dos anos contribuiu para o endividamento. O modelo previa que os formados passariam a pagar os valores após o diploma, mas a ausência de mecanismos flexíveis de cobrança comprometeu a eficácia do sistema.
O resultado foi um acúmulo de contratos não quitados e um número crescente de estudantes inadimplentes, o que torna o Fies menos atrativo para novas gerações. Esse contexto exigiu uma revisão profunda da estrutura do programa.
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Dívidas geram menor adesão ao Fies
Com os altos índices de inadimplência e a dificuldade de pagamento durante o curso, o Fies perdeu apelo entre os estudantes. Em 2016, mais de 1,1 milhão de pessoas tentaram uma vaga no programa. Em 2023, esse número caiu para 315 mil.
No ano seguinte, em 2024, o número despencou ainda mais, atingindo apenas 167 mil interessados. Mesmo com a oferta de 112 mil vagas, menos da metade foi preenchida, indicando um descompasso entre a proposta do programa e a realidade financeira dos estudantes.
Os dados também revelam que muitos alunos desistem da inscrição antes mesmo de concluí-la. Ao perceberem o valor que terão de arcar mensalmente, especialmente os 30% restantes da mensalidade, muitos interrompem o processo ainda no sistema.
Essa desistência reflete o descompasso entre a renda do público-alvo e os custos envolvidos. Os estudantes fazem os cálculos e concluem que o financiamento se torna inviável, mesmo com os subsídios oferecidos. Isso tem reduzido ainda mais a efetividade do Fies como política de acesso ao ensino.
O impacto disso vai além do número de inscritos. A evasão escolar também aumentou, pois muitos beneficiários não conseguem manter os pagamentos exigidos e acabam abandonando o curso. Essa evasão cria um ciclo problemático: o aluno fica com uma dívida sem obter o diploma.
Com isso, o fundo perde os recursos da devolução e o sistema educacional sofre com a redução do número de formandos. Assim, o programa deixa de cumprir seu papel social e financeiro, tornando urgente a reformulação de seus critérios e formas de cobrança.
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Governo está tentando corrigir os erros
Diante desse cenário, o Ministério da Educação reconheceu a gravidade do problema e começou a buscar soluções. A principal proposta em análise é tornar a cobrança da dívida mais flexível, condicionando os pagamentos à renda do formado. Essa alternativa está prevista na legislação de 2017.
A ideia é que, quanto maior a renda do ex-estudante, maior o valor das parcelas pagas. Se ele tiver renda muito baixa, poderá contar com descontos ou até mesmo perdão parcial da dívida. Essa solução visa reduzir a inadimplência e tornar o programa mais justo.
Além disso, o MEC tenta redirecionar o público do Fies. O diagnóstico atual aponta que estudantes com renda de até um salário mínimo e meio não deveriam assumir financiamentos, pois não conseguem arcar com os custos nem durante o curso nem após a formatura.
Por isso, a proposta é que esse grupo seja encaminhado para o Programa Universidade para Todos (Prouni), que oferece bolsas integrais sem necessidade de reembolso. Dessa forma, o Fies seria voltado a estudantes com renda superior a três salários mínimos, o que aumentaria a chance de pagamento.
Em 2024, o MEC chegou a implementar medidas especiais para tentar ampliar o acesso ao Fies, como o financiamento de 100% do valor do curso para famílias com renda per capita de até meio salário mínimo. Mesmo assim, a adesão continuou baixa, especialmente por causa da desconfiança dos beneficiários.
Em 2025, o programa oferece 56 mil vagas com condições especiais para esse público, o que representa metade das matrículas disponibilizadas no ano. No entanto, os dados indicam que a taxa de ocupação deve permanecer baixa, caso não haja mudanças mais estruturais no modelo de financiamento.
Como renegociar dívidas do Fies
Renegociar dívidas do Fies é possível e pode representar um alívio importante para quem enfrenta dificuldades financeiras. O processo permite ao ex-estudante reorganizar os débitos com condições facilitadas, como descontos, prazos maiores e isenção de encargos.
Para iniciar a renegociação, o devedor deve acessar o site oficial do banco que administra o contrato — geralmente a Caixa Econômica Federal ou o Banco do Brasil — e buscar pela opção de renegociação do Fies. A plataforma indicará os requisitos, valores atualizados e alternativas disponíveis para quitação.
As condições variam conforme o tipo de dívida e o tempo de atraso. Em programas mais recentes de regularização, o governo ofereceu descontos de até 99% nos juros e multas para beneficiários inscritos no CadÚnico ou com dívidas vencidas há mais de cinco anos.
Outros casos podem ter descontos proporcionais e opções de parcelamento em até 150 vezes. Além disso, quem deseja renegociar deve manter os dados atualizados no banco e no sistema do Fies. A renegociação costuma exigir documentação básica.
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