Finanças

No último ano, bets comprometeram a renda de mais de 7 milhões de brasileiros

Os brasileiros se endividaram diversas vezes devido às apostas online, as chamadas bets, tendo dificuldade de sair das dívidas

As apostas online, conhecidas popularmente como bets, conquistaram enorme popularidade no Brasil nos últimos anos e se tornaram parte do cotidiano digital de milhões de pessoas. Com apenas alguns cliques, qualquer usuário pode criar uma conta.

Lá, ele tem a opção de depositar dinheiro e tentar multiplicar seus ganhos em plataformas de jogos esportivos e cassinos virtuais. Essa facilidade de acesso, somada à intensa publicidade feita por influenciadores e celebridades, impulsionou o crescimento explosivo do setor.

No entanto, esse fenômeno levanta sérias preocupações sociais e econômicas, especialmente por seus efeitos diretos sobre o comportamento financeiro dos brasileiros. As bets deixaram de ser apenas uma forma de entretenimento e passaram a influenciar hábitos de consumo e níveis de endividamento.

Os brasileiros tiveram problemas financeiros e emocionais devido às bets.
Os brasileiros tiveram problemas financeiros e emocionais devido às bets. / Crédito: @jeanedeoliveirafotografia / procred360.com.br

Milhões de brasileiros se endividaram por bets

O avanço das bets no Brasil atingiu níveis impressionantes, com 39,5 milhões de brasileiros apostando online nos últimos doze meses, segundo levantamento da CNDL e do SPC Brasil. Esse número equivale a um terço dos consumidores digitais, demonstrando a amplitude do fenômeno.

Entre os participantes, 54% afirmaram ter realizado apostas esportivas, enquanto outros se voltaram para jogos de azar e cassinos virtuais. O estudo mostra ainda que 25% dos apostadores jogam semanalmente e 11% fazem apostas todos os dias, revelando o caráter repetitivo e viciante dessa prática.

A expansão acelerada das plataformas digitais e a promessa de lucros rápidos atraem um público cada vez mais diversificado, abrangendo todas as classes sociais e faixas etárias. No entanto, essa popularização cobra um preço alto.

Aproximadamente 7,5 milhões de brasileiros admitiram ter comprometido parte da renda mensal com apostas, enquanto 16,2 milhões afirmaram ter deixado de consumir outros produtos ou serviços para continuar jogando.

O gasto médio mensal gira em torno de R$ 187, mas varia conforme a classe social: apostadores das classes C, D e E gastam cerca de R$ 151,98 por mês, enquanto os das classes A e B chegam a desembolsar R$ 255,22. Esses valores, embora pareçam modestos isoladamente, representam uma pressão constante sobre o orçamento familiar e podem desencadear um ciclo difícil de reverter.

Além disso, os números mostram um alerta preocupante: 17% dos entrevistados deixaram de pagar contas essenciais para continuar apostando, e 29% já tiveram o nome negativado em função de dívidas ligadas às bets. Entre esses, 17% ainda permanecem com restrições de crédito ativas.

O cenário revela como a ilusão de lucro fácil se transforma rapidamente em problema financeiro real. A compulsão por apostar, impulsionada pela gratificação imediata e pela natureza viciante dos jogos, afeta especialmente os mais vulneráveis economicamente.

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Impacto além do financeiro

Os efeitos das bets ultrapassam as fronteiras do bolso. De acordo com a pesquisa, 28% dos entrevistados afirmaram ter vivenciado consequências negativas após começarem a apostar, incluindo conflitos familiares e sintomas de ansiedade ou depressão.

Essa realidade mostra que o vício em jogos online não se limita à perda de dinheiro, mas também compromete o bem-estar emocional. A sensação constante de derrota, a necessidade de recuperar o valor perdido e o medo de admitir o problema alimentam um ciclo psicológico de culpa e frustração.

Os reflexos também se estendem ao ambiente profissional e educacional. Segundo o levantamento, 7% dos apostadores relataram queda na produtividade no trabalho ou nos estudos devido ao envolvimento excessivo com as bets.

A distração constante, a perda de foco e a instabilidade emocional reduzem o desempenho e colocam em risco oportunidades de crescimento pessoal. Além disso, a exposição contínua às propagandas de apostas e à competitividade nas redes sociais reforça o desejo de participar, o que agrava o problema.

A presença das bets em campanhas publicitárias e transmissões esportivas cria uma cultura de normalização do jogo, tornando-o socialmente aceitável. Esse cenário acende um alerta urgente. O crescimento descontrolado das apostas online representa um desafio social e econômico.

A regulamentação do setor precisa priorizar a proteção do consumidor e não apenas o aumento da arrecadação pública. A ausência de políticas públicas eficazes e de campanhas de conscientização sobre o vício em jogos contribui para o agravamento da situação.

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Regulamentação das bets

A discussão sobre a regulamentação das bets avança e ganha cada vez mais espaço entre autoridades e especialistas. A maioria da população, segundo a pesquisa, mantém uma postura crítica em relação à publicidade de apostas.

Cerca de 60% dos entrevistados consideram negativa a promoção dessas plataformas por celebridades e influenciadores digitais, e 41% afirmaram já ter deixado de seguir criadores de conteúdo que divulgam casas de apostas.

Entre as medidas defendidas pelos entrevistados estão campanhas de conscientização sobre o vício em jogos, mencionadas por 44% dos participantes, e a suspensão do marketing voltado a jovens e adolescentes, apoiada por 35%.

Além disso, 30% pedem que informações sobre os danos das bets sejam difundidas em escolas e redes sociais, enquanto 27% sugerem o aumento de impostos para tornar as apostas mais caras e menos acessíveis.

Apesar das divergências, 37% da população defende a proibição total das bets, enquanto 56% preferem que a atividade continue permitida, mas com regras mais rígidas e fiscalização intensa. O uso de cartão de crédito e o fácil acesso a empréstimos para apostar ampliam o risco de endividamento.

É importante estabelecer uma atuação conjunta entre governo, empresas e sociedade para garantir que o crescimento do setor não comprometa a saúde financeira das famílias. Assim, a regulamentação das bets deve equilibrar liberdade de entretenimento e responsabilidade social.

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Nicole Ribeiro

Graduanda em Jornalismo na pela Universidade do Estado de Minas Gerais, formada em Letras - Português também pela UEMG. Redatora freelancer e revisora de artigos e textos acadêmicos. Apaixonada por gatos e pelo conhecimento.

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